Sou professora da rede municipal da prefeitura de Belo Horizonte, trabalho com o Ensino Fundamental e atuo prioritariamente em turmas dos anos iniciais, (ciclo da alfabetização), mas tenho experiência também no 2º ciclo, na Educação de Jovens e Adultos e na coordenação pedagógica da escola. Já percorri diferentes caminhos e funções no ambiente escolar, mas sempre presente o interesse pelo processo de ensino e aprendizagem e também em aprender como esse processo educativo pode ser repleto de trocas, sensibilidade e encantamento. Sou mestranda, estudante da UFMG, no PROMESTRE, na linha de pesquisa de Educação em Museus e Divulgação Científica, sonho alcançado com muitas lutas. Trabalhando em dois turnos, casada e mãe de dois adolescentes, me restava pouco tempo para me dedicar aos estudos e na elaboração do projeto de mestrado, mas juntando todas as forças, sonhos e ideais, consegui a tão sonhada vaga no mestrado profissional.

            As disciplinas cursadas, o ambiente acadêmico, os professores, as bibliografias indicadas para a leitura, a escrita acadêmica, as trocas com os colegas de sala, todo esse mix de novidades aqueciam o meu coração e só aumentavam as minhas expectativas em relação ao mestrado. A formação em serviço, essa experiência de estar na sala de aula e poder pensar e refletir sobre os meus estudantes, sobre suas interações, por muitas vezes foram o meu refúgio. Encontrei na academia uma oportunidade de ver o mundo com uma lente de aumento, que me aproximava das questões e desafios desencadeados na escola.

            No decorrer do curso fizemos uma viagem que possibilitou reflexões contribuíram ainda mais para aprender a olhar, observar e encantar tanto com as narrativas, quanto com as memórias construídas em museus. No Seminário de Pesquisa, disciplina cursada no PROMESTRE (Mestrado Profissional da FAE/UFMG), o professor fez o convite aos mestrandos para uma visita aos museus do Rio de Janeiro. Da nossa turma, fomos eu e a amiga Márcia, também professora da rede. Sair de casa e desligar um pouco de ser mãe, esposa, professora e me “vestir” de estudante, de mestranda, não significa que deixamos de lado tudo o que somos, mas sim que dedicamos um tempo para estudar, conhecer e fazer a experiência de uma visita aos museus do RJ. Antes achava que a academia não era para mim, achava que essa “camisa de mestranda” nunca iria me servir e me enganei. Fico pensando na riqueza que a UFMG proporciona aos estudantes, que “balbúrdia maravilhosa”, conhecer tantas histórias, vidas, culturas, presentes nas exposições e lugares visitados. No cotidiano escolar também fazemos visitas aos museus com os estudantes, mas estando com a turma sempre temos a preocupação e o cuidado com eles durante todo o tempo, principalmente com as crianças pequenas e acabamos não aproveitando tudo o que os espaços museais têm a nos oferecer e não fazemos a experiência de fato.

            Visitamos a Biblioteca Nacional, Museu Histórico Nacional, Palácio do Catete, Museu do Amanhã e percorremos o centro urbano do Rio, conhecemos as escadarias Selaron, os grafites do Kobra, o Cais do Valongo, Confeitaria Colombo, Arcos da Lapa e ainda fomos na Feira de São Cristovão. Alguns momentos coletivos junto com os outros estudantes do curso de Museologia e Biblioteconomia e outros momentos que tivemos liberdade para “desbravar” o Rio de Janeiro.

Figura1 e 2 – Amiga Márcia e o professor Lúcio


Fonte: Acervo próprio

            Em uma de nossos passeios pelo entorno, visitamos um ponto turístico do bairro boêmio da Lapa, a escadaria Selaron, que mistura arte urbana em mosaico, cor e história, com azulejos trazidos por turistas de toda parte do mundo.

Figura 3 e 4- Selaron



Fonte: acervo próprio

O Museu Histórico Nacional também nos saltou os olhos, um dos mais importantes museus de história brasileira, conta com um acervo maravilhoso e não pude deixar de pensar nos olhos curiosos das crianças em tal lugar, olhando e ouvindo as histórias desde a pré-história até os dias atuais.

Foto 5 e 6 – Museu Histórico Nacional

Fonte: Acervo próprio

            Vendo essa foto 6, em um momento de contemplação, também com o olhar curioso e atento, imersa naquele ambiente, com a cabeça repleta de histórias, era como se estivesse vivendo e sentindo o que as imagens nos faziam pensar, me faz lembrar de Larrosa (2002) quando fala da experiência, é isso, “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece”. No nosso conturbado dia a dia, dificilmente temos momentos assim, de fato passamos por muitas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara. Os momentos no museu nos dizia isso, parar, dar uma pausa, ir devagar, só sentir e viver aquela experiência.

            Parada básica para recompor as energias e tomar um delicioso café, na famosa Confeitaria Colombo, na companhia da minha amiga Márcia, que fez dos meus dias mais divertidos e agradáveis. Quem disse que professor não merece se presentear com um café da tarde assim?

Figura 7 – Confeitaria Colombo


Fonte: Acervo próprio

            No cotidiano escolar é sempre muito corrido, com tempos e planejamentos a cumprir. Muitas vezes me pergunto sobre o que nos move... Para não perder de vista o nosso principal foco que são os estudantes. Não são as habilidades e o currículo que preciso ensiná-los, mas plantar neles o desejo pelo saber, o encantamento pelas descobertas, o entendimento do porquê das coisas e o resto é consequência, virão com certeza. A viagem foi uma pausa para refletir, parar e respirar, dar-nos tempo, nos permitir sonhar e também semear sonhos por onde passamos.

    O Museu do Amanhã é extremamente suntuoso e imponente em suas estruturas e exposições. As perguntas “quem somos” e para onde vamos” já nos fazem pensar mais introspectivamente. É um museu esteticamente bonito e atraente para os turistas, mas não foi o que mais me emocionou. O que me emociona é pensar na história dos homens, nos inúmeros desafios vividos, injustiças e tentar ver o que nos tornamos e o que queremos nos tornar.

Figuras 8 e 9- Museu do Amanhã


Fonte: Acervo próprio

            Em nossas andanças encontramos o cais do Valongo, considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, por ser o lugar de desembarque de aproximadamente 1 milhão de africanos que foram escravizados.

Figuras 10 e 11- Cais do Valongo


Fonte: Acervo próprio

            Também pudemos nos maravilhar com o painel gigante do Kobra que utiliza a técnica do grafite.

Figura 12 – Mural do Kobra

Fonte: Acervo próprio

            Termino com algumas fotos tiradas no Palácio do Catete, teria muitas outras para apresentar e tantas outras histórias para contar, histórias que irão povoar minhas memórias e que fazem de mim ser quem sou hoje.

Figuras 13 e 14 - Palácio do Catete

Fonte: Acervo próprio

 

Bibliografia:

 

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr., 2002.